"Sem desobediência não há mudança"

Eu sei que eu não posto nada aqui há séculos, e sei que isso não faz a mínima diferença já que ninguém lê o blog. (Sou sincera e digo o óbvio.) Eu tive muita vontade de criticar um montão de coisas, mas eu estava de férias e minha motivação estava tão pequena que as críticas não ultrapassavam as barreiras da minha caixa craniana. Entretanto, meus caros patrícios, hoje ouvi muitas pérolas que me deram motivação suficiente pra vir aqui escrever, apesar da minha dor de cabeça aguda e do meu estado de humor atual. Férias e dores a parte, vamos ao que realmente importa.
Dizem que a raiz de todos os problemas é a desobediência. Isso está na bíblia e ouso dizer que está até na nossa sociedade. Dizem que as regras existem para ser seguidas e que toda tentativa de mudança deve obedecer a elas.
Agora eu te pergunto, caro leitor fantasmagórico, não é muito conveniente pregar a obediência para os participantes de um sistema tão corrupto e tão cheio de defeitos? Esses mesmos participantes que constituem a base desse sistema?
Será que se o movimento feminista fosse obediente, as mulheres teriam conquistado o direito ao voto? Será que se Luther King tivesse agido com mais obediência a dominação branca, teria conquistado direitos civis aos negros? Será que se Lutero fosse obediente ele conseguiria provocar uma onda de reformas na Igreja Católica?
Onde quero chegar com esse tanto de perguntas retóricas? Na questão da mudança. Se algo está errado, e queremos transformar, não vamos conseguir fazê-lo sem desobedecer alguma ordem, mesmo que seja cultural. Aí você vem e me fala que aos brasileiros é dado o direito de protestar. Primeiro, que muitos movimentos são reprimidos com força policial. Mas, vamos supor, que no Brasil tudo é lindo, e podemos protestar quando quisermos, sem o risco de levar bombas de efeito moral  na fuça. Então, que tipo de desobediência você tá falando gata? Estou falando da desobediência ao padrão social de valores. A Marcha das Vadias, por exemplo. Sabe aquela desculpinha boba, do tipo, "uma coisa é protestar, outra é sair pelado". Meu caro, quando elas saem peladas elas estão desobedecendo a um padrão social machista, que é justamente o que elas querem. Como elas vão provocar mudanças na mentalidade machista, seguindo a mentalidade machista? Não tem lógica. É acomodar e persistir no erro.
Outra desculpinha boba é a de que devemos relevar os erros humanos. Afinal, as instituições são constituídas por homens. Agora te pergunto, prezado leitor, se todo ser humano está suscetível ao erro, ele deve permanecer no erro? Devemos relevar, só porque é o humano? Enxergamos e constatamos o erro, mas não devemos mudá-lo? É melhor tapar os olhos, porque tentar a mudança seria desobediência? Devemos obediência a sociedade, aos nossos pais, a Igreja, ou mesmo ao Estado, mesmo se formos oprimidos e mesmo se estivermos vendo os erros?
Agora vamos para a terceira, (e última para a felicidade geral da nação) desculpinha boba: "Esse tipo" de coisa é normal. Se você concorda com essa lógica, responda: Só porque é normal, está certo? Até bem pouco tempo atrás, era normal os pais determinarem os casamentos das suas filhas. Mas era certo? Na década de 60, nos Estados Unidos, negros usavam banheiros diferentes que os brancos. Isso era completamente normal. Mas era certo? Durante o Brasil colônia, os negros eram considerados humanos "sem alma", inferiores ao brancos, que podiam ser escravizados. Um pensamento normal para a época. Mas era certo? Deixo que você responda.
Depois desse post de mais perguntas do que afirmações, finalmente concluo: Se não houvesse desobediências, estaríamos parados em uma eterna involução social. A desobediência leva a transformação, que por sua vez leva a evolução. Vale lembrar que um dos maiores revolucionários de todos os tempos era Jesus, e ele desobedeceu. (Ooooooooooh!) Finalizo o post com uma pergunta, pensem e me respondam se quiserem: Temos que ser obedientes àquilo que nos escraviza e nos oprime?